ESTREITO - Neste sábado, 31 de maio, Estreito viveu um daqueles episódios que falam mais alto que qualquer discurso bonito. Em um dia reservado para exaltar a educação, a leitura e o talento das nossas crianças, o que se viu foi a transformação de um evento pedagógico em palanque político.
A Feira Literária, atividade que integra o calendário da rede municipal, planejada com dedicação por professores, coordenadores e alunos, acabou sendo ofuscada por uma manifestação organizada por dirigentes sindicais e apoiada por vereadores que optaram por politizar um espaço que deveria ser sagrado: a escola.
Ninguém aqui está dizendo que não se deve protestar. Mas há tempo, lugar e sobretudo responsabilidade. Quando uma manifestação atropela o direito das crianças de viverem um momento de aprendizado e orgulho, construído com esforço e expectativa, ela perde sua legitimidade. Vira ruído. Vira vaidade. Vira instrumento de interesses que pouco têm a ver com o bem coletivo.
Mais preocupante ainda foi ver vereadores que deveriam representar toda a educação se alinharem apenas a um grupo. Hoje, esses parlamentares decidiram representar exclusivamente os professores concursados, que já gozam de estabilidade e, muitas vezes, de atenção privilegiada, e ignoraram completamente os contratados, que atuam lado a lado nas escolas, nas mesmas salas, com o mesmo compromisso, e que também fazem parte dessa rede.
Esses vereadores foram eleitos com votos de todos, mas, neste sábado, deixaram claro quem realmente consideram prioridade. A mensagem foi direta: se você é contratado, só serve na urna. Depois, é descartável.
E aqui vale a pergunta: por que esse protesto não ocorreu em frente à Prefeitura, à Câmara ou dentro dos canais legais de negociação? Por que usar um evento voltado para as crianças, com presença de pais, professores dedicados e alunos orgulhosos, para um ato sindical? A resposta é simples: visibilidade. Cenário perfeito para a autopromoção.
Enquanto isso, mães e pais que esperavam registrar aquele momento especial dos filhos viram a educação virar pano de fundo para uma agenda política. Alunos que ensaiaram, prepararam materiais e viviam a expectativa da feira se viram em meio a faixas e gritos que nem sequer diziam respeito a eles.
E o pior: essa escolha não foi um erro acidental. Foi deliberada. Uma estratégia. Usaram a escola. Usaram os alunos. Usaram a boa-fé da população para tentar fortalecer um discurso que se enfraquece justamente por faltar sensibilidade e empatia.
Como se não bastasse, o teatro político continua. Alguns dos vereadores que hoje vestiram a roupa de oposição na feira, na semana que vem estarão sorrindo dentro da Prefeitura, como se nada tivesse acontecido. Atrás de suas demandas, de seus pedidos, de seus interesses pessoais. Essa é a prática que precisa acabar em Estreito. Durante a semana, são aliados. Nos fins de semana, viram opositores para aparecer bem na foto. Quando há mídia, vestem a fantasia de defensores do povo. Quando a pauta é pessoal, correm para o gabinete do prefeito, oferecendo de bandeja a cabeça de colegas da oposição, trocando informações, entregando conversas, negociando encontros e plantando versões convenientes para se manterem por cima.
É uma oposição de ocasião. Uma política feita com espelho, não com princípios. E a população está farta disso. Estreito precisa, sim, de debate. Precisa de melhorias. Precisa de valorização da educação como um todo. Mas isso não se constrói com sabotagem. Não se constrói desrespeitando a infância. E não se constrói dividindo profissionais em categorias de primeira e segunda classe.
A população percebe. Sente. E se incomoda. Porque enquanto seus filhos estavam prontos para um momento importante de aprendizado, viram adultos que deveriam ser exemplo instrumentalizarem a escola em nome de interesses próprios.
A educação não pode ser usada como trampolim político. Os alunos não são escudo. A Feira Literária não é palanque.Quem defende a escola de verdade a respeita por inteiro. Com todos os seus profissionais. Com todos os seus alunos. E com todas as famílias que acordaram cedo neste sábado acreditando que veriam uma celebração do saber e saíram com o gosto amargo da manipulação.